sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Encontrei isso aqui...

A nova onda é o boogie. O blues ficou para trás. Eu quero comer duzentas milhas de asfalto. E quero que você o faça comigo. A liberdade é o sonho do qual tento acordar, mas é impossível: eu sou o furacão, e eu vou soprando as nuvens para longe daqui. O sol brilha na minha constelação, e eu sou o raio vagabundo, vencendo a órbita dos planetas, iluminando a escuridão do cosmos.

Os meus heróis foram caindo. Alguns de overdose, outros em escândalos sexuais. Eu sempre quis ser Sylvester Stallone. O mundo não é dos fortes, mas se eu fosse Arnold Schwartznegger, talvez eu fosse mais feliz. Eu fui criado num mundo pós-guerra. Sempre quis ser violento. Ás vezes acho que sou uma mocinha. Mas sempre quis ser muito violento.

Os carros na tevê são sport. A música da tevê é a dos homens bonitos, das mulheres bonitas. Quando eu pego a estrada da madrugada, quando me deixo, assim, a mastigar as estrelas, aposentando os mapas para pasárgada, me pergunto se quero realmente ser bonito. Meu coração cheira a diesel e o meu amor tem essa textura da relva fresca, batida pelos nossos corpos. Eu não aguento as sombras das árvores por muito mais tempo e acho que quero mesmo é cozinhar no inferno. - Quem vai saber o que quero! Se eu pudesse morrer, que fosse na altura de um penhasco; e o mundo, por um instante, ser meu e de mais ninguém.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Em sua boca havia um pouco do mel espesso de sua última palavra,

Com o seu esôfago cosia auroras, bordando

um lenço de juncos inertes – o grito mergulhava como um peixe

em lagos sem nome: homem e fera lambiam da mesma fonte.

E a lama fresca de seus pés – Olhos

sepultos em espelhos escuros – deixava um odor turvo e pálido de

passado esquecido. A tudo ele sentia

Com a mais viva intensidade. Do seu

peito, pulmões gemiam em cavernas ósseas, gemiam canções de guerra. Alasão

Sem lesões, cascos firmes esburacando nuvens cinzas

de poeira, a crina levava estrangulado, em suas tranças negras, uma antiga vaidade;

e o tempo já não segurava as rédeas de seu pescoço;

e ele parecia eterno, sentia um gosto amargo e absurdo de permanência.

Selvagem, ignorou que o mundo era geométrico: cubos, planos, primas

– tudo o mais era carne, músculos, vegetação

túmida; nesga de homem corria na lágrima do animal.

E o orvalho eram os seus olhos, vivos, vivíssimos em tudo,

segurando os cabelos vermelhos do astro pelos dentes

E o puxando violentamente de volta para si. Enfim, não era homem

Crepitando o carvão dos dias.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

beijo

Que caia uma camada de silêncio sobre nossas bocas
Enquanto este momento oportuno
Tornar a nós dois o que, na verdade, somos:
Um.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Eu

Atrás da porta do meu quarto,
Que nunca está completamente fechada por uma questão de hábito,
Há alguém
Me esperando.
É sempre pela noite que algo me espera (nunca pelo dia).

Deito-me e fico a encarar
Olhos invisíveis
Sonhando
de pé.
É sempre alguma coisa, e está sempre de pé, respirando
Calmamente. Não há qualquer vestígio
De ansiedade.

O que é que me espera, eu não sei. Sei que está lá,
Em silêncio,
Estudando-me como um animal de alguma experiência obscura.
Se me quer bem, se me quer mal...
Eu não sei de muita coisa.

O que me angustia,
é saber que há algo a ser esperado. Se de mim,
Ou se eu mesmo,
Se meu despertar ou adormecer...
Que sei eu dessas coisas?
Sei que estive esperando pela espera de alguém
Ou de alguma coisa.

Se de mim ou de outro...
E se eu for outro e estiver esperando por mim?
E se...
Nunca fecho completamente a porta do meu quarto,
E deixo que o vento de uma dúvida me seqüestre.
Se me levar para onde, para longe...
Que me importa?

Desde que eu vá para algum lugar.

. . .

Súbito
Súbito acordo.
Súbito.
Uma centelha explode em minha testa.
Têmpora,

Cabelos escuros,
Tudo
Elétrico,
Tudo obra de alguma luz
Que desfaz sombras
Como lã.

E se estive segurando um novelo,
Por um labirinto de
mentiras,
Sim, mentiras,...
Ainda estou sendo guiado?
Ainda...?
Ainda. Ainda estou aqui.
Mas que...?

Que lugar é este?
E que cama, que lençóis, que cheiro,
Que brisa é essa que invade
o espaço?
Não é minha.
Estas roupas...

Com que semelhante surpresa
Eu poderia experimentar
A textura do desconhecimento?
O espelho nunca
Nunca me refletiu antes?
Os traços deste rosto não existem.
É de um outro rosto
E com horror reconheço que não estou.

Onde estive?
Minha alma, se é que existe alma,
esteve sempre aqui?
Não recordo de ter deitado minha cabeça no travesseiro.
Parece que acordei e nasci.
Parece que morri.

. . .

Vou-me embora para longe,
Vou-me embora para mim.
Se chegarei, não sei.
Não sei de nada.
Só sei
Que não estou aqui.

Se estivesse, não sentiria
Essa angústia nervosa de sair à rua com pés de outros homens
Embaixo dos meus.
Sei que são homens decentes,
E que todos eles têm pés muito particulares.

Os meus não deixam rastros.
Meu vestígio é a indiferença.
Teu coração já foi bombardeado por tantas palavras confusas
E agressivas... Nem reconheço em tê-las dito.
Talvez não tenha, mas isso são outros quinhentos.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Sobe, pequenina,

A aranha,

Desfiando o silêncio pleno e satisfatório

de uma vida.

De uma vida inteira.


Negra,

Como uma conta

de rosário,

A oração

já é uma cadeia de palavras vazias, vazias,


e a aranha,

Em meu coração

Prepara sua armadilha.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Eu vou estar para
Sempre
Te esperando,
Na ponte
Onde ninguém
Passa,
Onde apenas nossas
sombras
descansam
o silêncio de nossas
almas
em nossas mãos
dadas
e calmas.

As águas
Desmancham agosto,
e há um pouco
de presente
de aniversario
nisso
tudo;
Meu beijo
No teu coração
É uma carícia
A ser ouvida
Com o espírito.
Nossos dedos
Promessa
Que não quebra

nem à margem dos rios
nem à margem
dos nossos
mares,
Nosso Sargaços,
oceano
onde a morte
coroa a vida
dos nossos destinos,
não entrelaçados
por algum
artifício: mas unidos,
siameses
como dois irmãos
separados apenas
pela morte,
ou talvez
não.
Queres aprender a viver? Comece a dizer sim.
Não sejamos nós também filhos de um
longo século de negações.
Chega de lutar contra a vida,
Como se fôssemos um corpo hostil em um ambiente hostil.
Não nos privemos da experiência. Digamos sim.
Não apenas às oportunidades,
Mas ao que não podemos mudar.
Saibamos não nos curvármos à impotência
Do que já foi.
O Passado, o cemitério onde não enterramos nossos mortos
o bastante fundo;
De sua vegetação pútrida e de sua terra úmida
Ainda exalam os miasmas dos nossos corações amargos.
Esqueçamos!
Esqueçamos os mortos!
Enterrem fundo os seus mortos
Ou aprendam a bailar com eles.
Deixem-nos para trás.
Perdoem-nos. Perdoem o que morreu. Perdoem-se,
Perdoem-se por ter deixado morrer.
Nada permanece,
Então nada poderiam fazer
Que a natureza já não tinha ela mesma planejado de antemão.
Realidade, efemeridade...
Sejamos transitórios como as águas dos rios,
Sejamos violentos como as águas dos rios,
E desçamos pela vida, com violência e amor.
Esqueça o passado,
Você não precisa dele.
Esqueça as ofensas, esqueça tudo. Esqueça as zombarias,
As humilhações. Você será grande,
Porque esse é o instante da tua grandeza,
Tu que sabes esquecer, que sabes rir do que foi
E do que não tornará. Tudo será uma bela história, uma narrativa
Para ser gozada à chama de uma fogueira. Toda a tua
Vida, versos inimitáveis de um poema,
Gole único de uma taça de bebida fresca.
Esqueça o que passou
E não tornes para traz.
Não te angustie com o porvir,
Não tropece sobre os próprios pés. Ama o instante,
Porque é nele que tu te tornas real.